Gil Vicente, ainda na Idade Média,
demonstrou de maneira ardilosa, soube usar das palavras contra as quais qualquer
contra-argumento não se consolida. Gil Vicente produziu obras que denunciavam o
comportamento desde os plebeus até os nobres, colocando-os no mesmo patamar de
julgamento, não aliviando a mão (ou a pena), para desmascarar a falta de
caráter dos seus personagens. Não fazia questão de distinguir classes sociais,
colocando nas cenas as vaidades de ricos e pobres, faz censura contra a
hipocrisia do clero, denuncia os exploradores dos mais marginalizados, fala da
imoralidade e ridiculariza os costumes supersticiosos.
Sua intenção ia além de divertir,
queria também alcançar a consciência do homem, destacando os vícios da
sociedade cada vez mais corrupta, mostrando-lhe que o melhor caminho é o do
bem.
Sua escrita é instigante, atual,
desafiadora. Quebrou padrões e por isso até hoje é estudado como ícone da
literatura. Sua obra, sem dúvida, é emblemática, pois retrata sua época de
maneira fiel, usando do teor satírico, moralizante, repleto de humor.
No contexto atual, um filme brasileiro
baseado na obra de Ariano Suassuna, retratou com inteligência uma cena onde
ocorre um julgamento com personagens tradicionais com as características que
aparecem nos autos de Gil Vicente. Apesar de todo filme trazer a temática da
crítica aos costumes da sociedade e das instituições retratando a humanidade num
espaço tipicamente brasileiro (o Nordeste), seus personagens são alegóricos e
reais; buscando sempre o equilíbrio entre a oposição entre o bem e o mal,
justiça e misericórdia, moralidade e corrupção.
Esta cena está na grandiosa obra O
Auto da Compadecida, que se transformou em filme em 2000. Para quem não conhece
a obra de Gil Vicente, vale a pena conferir, pois são carregadas de
ambiguidades. Para quem ainda não conhece a obra do brasileiro Ariano, corre lá
conferir!
Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bG6rdvbjrVQ